Juan Román Riquelme, nasceu em San Fernando, Buenos Aires, em junho de 1978, um dia antes de a Argentina conquistar pela primeira vez na história uma Copa do Mundo. O bom futebol apresentado desde muito cedo nos torneios realizados no bairro de San Jorge, local em que morava, atiçou os olheiros. Bella Vista e La Carpita foram as duas equipes que Riquelme defendeu antes de ser convidado a fazer parte do elenco do Argentinos Juniors. O início de carreira exigiu um enorme esforço físico, e a condição de titular custaria a chegar, porque seu treinador insistia que o craque deveria jogar mais recuado, no meio-de-campo. Muitas tardes de domingo foram passadas nas arquibancadas de La Bombonera, o estádio do Boca Juniors, com olhos pregados nas jogadas do time azul e dourado. Em 1996 um dirigente do clube foi aconselhado a comprar algumas grandes promessas do Argentinos Juniors, entre elas, Juan Román Riquelme.
A paixão pelo Boca era tão intensa quanto a de Tevez e fez o momento parecer um sonho. As boas atuações aliadas à má fase vivida pela equipe apressaram a estreia. Em 11 de novembro do mesmo ano, estreou enfrentando o Union de Santa Fé. O caminho que trilhou a partir desse momento tornou sua história ainda mais similar à de outros craques.
Em 1997, formando dupla com Pablo Aimar, levou a seleção argentina sub-20 à conquista do Sul-Americano e do Mundial da Malásia de forma brilhante. O torneio Apertura daquele ano foi vencido pelo rival River Plate, mas reservou a Riquelme uma emoção singular. No dia 25 de novembro, River e Boca jogaram no Monumental de Nuñez. Ao ver o placar adverso de 1 a 0, o treinador do Boca decidiu apostar em uma mudança. Tirou Maradona, que lutava para se recuperar do vício das drogas, e colocou em seu lugar o garoto nascido em San Fernando, que não perdeu a oportunidade. Ao terminar o duelo, Riquelme foi considerado o grande nome do jogo, que aliás foi a última partida oficial de Diego Armando Maradona, sinônimo de camisa 10. Ainda em 1997 foi convocado para a seleção principal. Era a última partida das eliminatórias para a Copa da França, e o palco era La Bombonera. Riquelme entrou quando faltavam apenas dez minutos para o final do jogo. Pouco poderia fazer, mas a euforia que causou nas arquibancadas provou que não se tratava de um momento qualquer.
Dono de um futebol bonito e objetivo, enlouqueceu a defesa do Barcelona em agosto de 1999, durante um amistoso. Em 2000, quando o Boca chegou ao terceiro título da Libertadores, Riquelme foi o principal protagonista da conquista. Em dezembro, com uma atuação extraordinária, ajudou o Boca a bater o poderoso Real Madrid na final do Mundial Interclubes por 2 a 1. Voltou a ganhar a Libertadores em 2001.
Entre os grandes que se viram seduzidos pela plástica de Juan Román Riquelme, o Barcelona levou a melhor. Após 18 meses de negociação, o clube catalão tirou dos cofres 25 milhões de euros para ter em seu quadro um provável 10 de dimensões mundiais. Era a hora de viver o desafio da adaptação, que já havia vitimado tantos outros jogadores. Com Riquelme não foi diferente. As dificuldades enfrentadas no Barcelona, especialmente com o técnico Louis van Gaal, o fizeram ser emprestado ao Villarreal. Recuperada a grande forma, e já sem o peso da camisa 10 (passou a vestir a 8), Riquelme voltou a esbanjar precisão e ajudou a levar o Villarreal às semifinais da Copa da Uefa e à terceira colocação da concorrida Liga Espanhola.
Riquelme, como tantos outros, é tímido fora de campo; dentro dele, mágico o suficiente para ditar a direção que a bola deve seguir. Não foi à toa que o técnico José Pekerman, da seleção argentina, resgatou seu futebol na seleção que disputaria a Copa do Mundo da Alemanha, em 2006. Fora das convocações do antigo treinador, Marcelo Bielsa, o novo técnico, sabia que não poderia disputar uma Copa sem o talento de um Riquelme. Foi assim em 1997, quando Pekerman era o treinador da seleção sub-20. Foi assim também que outros treinadores, como o consagrado técnico Carlos Bianchi, três vezes campeão mundial interclubes, definiu o craque argentino:
“Román [Riquelme] é um dos melhores do mundo. Vê as jogadas com três tempos de antecedência do que qualquer outro. É muito parecido com Zidane”.
Mesmo sem o poder de tê-lo a seu lado, o craque francês concorda com o técnico argentino:
“Se eu fosse técnico da seleção argentina, sempre colocaria Riquelme e Saviola para jogar”.
O craque da camisa 10 argentina transforma a arte de jogar futebol em espetáculo. Não é apenas o fanático torcedor de futebol que enxerga o talento com que nasceram alguns craques. A melhor definição para o que Riquelme é capaz de fazer dentro de um campo foi dada pelo craque alemão Rummenigge:
“Nasceu tocado por uma vara mágica”.
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